
Passei a manhã toda desconcentrado no trabalho, mal podia ler os documentos que me eram entregues, meus temores ocupavam toda minha mente e a impediam de ser direcionada para qualquer ponto distinto a eles. Antes mesmo de sair de casa para ir ao trabalho, recebi uma ligação de Pablo, que não poupou grosserias ao me ameaçar. Como eu tinha previsto, o casal percebeu que eu os havia assistido, e agora, por receio de Janaina, Pablo me ligou avisando que me encheria de pancadas se eu contasse algo do que havia visto naquela noite. É obvio que ser ameaçado não me agradou, mas era obvio também que eu não iria expô-los de forma alguma. Eu estava na hora errada e no lugar errado, e tinha preocupações demais com outros assuntos, desperdiçar meu tempo divulgando as aventuras sexuais alheias com certeza não era meu objetivo. Temia mesmo assim que Pablo cometesse alguma loucura, desde o tempo de colégio, ele era estourado e impaciente, bastava pouco para que ele saísse na briga com metade dos alunos e o pior, é que apesar de nunca ter sido muito forte, sempre levava vantagem quando o assunto era briga. Eu não estava disposto a verificar se as habilidades de luta do cara ainda continuavam as mesmas.
De todo esse meu pânico com a possibilidade de apanhar feio depois de anos sem levar sequer uma palmada de meus pais, nada superava a minha inquietação em relação ao que aconteceu entre mim e aquele forasteiro estranho. Os breves contatos entre a mão gélida do sujeito e minha pele provocaram-me sonhos durante toda a noite, onde o simples toque da mão do Rapaz evoluía para muito mais, e acabávamos nus em uma cama. A maneira como ele sumiu em meio à calada da noite, sem deixar vestígio algum do destino que seguiu me intrigava ainda mais. Depois daquele segundo encontro, desejava ainda mais encontrá-lo e desvendar o que de tão misterioso naquele homem me atraia.
Estava vagando em meus pensamentos mais sórdidos quando senti meu celular vibrando no bolso da minha calça. Sabia muito bem que meu chefe detestava que os funcionários atendessem ao telefone particular dentro do escritório, e por isso mesmo ignorei a chamada até que eu pudesse ir até a cozinha tomar um café e discretamente retornar a chamada a quem quer que fosse que me ligava.
Passados alguns minutos, sinto novamente o celular vibrar, mas desta vez, meu chefe estava longe, dirigi-me até a cozinha para tornar a probabilidade de ser flagrado nula e vi no visor do aparelho o nome que eu menos esperava e desejava ver. Era Pablo novamente. Sabia que não havia alternativa senão atende-lo, o cara seria insistente, até que eu ouvisse o que ele tinha a me dizer. Após uma pausa breve para respirar, tomei coragem e aceitei a ligação.
- Achei que não ia atender mais! – disse Pablo em tom intolerante.
- Cara o meu chefe estava perto, foi mal. E outra eu já disse para você ficar frio, eu não vou contar nada. O que mais você quer de mim?
- Quero poder ter certeza disso. Nada mais!
- O que foi agora? Minha palavra não é o suficiente? Vou ter que assinar um contrato de omissão agora?
- Gustavo! Sem ironia meu. Mas concordo que a idéia do contrato seria uma boa. Te espero na saída do escritório hoje para resolvermos as coisas do meu jeito. Que horas você deixa o trabalho?
Não pude evitar que naquele momento fosse dominado por uma raiva enorme, meu desejo era poder esculachar o cara e mandá-lo cuidar da própria vida e me deixar em paz, mas eu sabia que tratá-lo dessa forma despertaria ainda mais seu lado violento. Respirei fundo antes de responder, tentando forçar em minha voz um tom despreocupado.
- Saio às 18 horas.
- Ótimo, espero você sem atrasos bem em frente à porta do escritório. E espero que você esteja me dizendo o horário correto, senão serei obrigado a fazer plantão na porta da sua casa, até que você chegue.
- Relaxa! Até mais.
Desliguei o celular mais nervoso que antes, sabia que Pablo era realmente capaz de ficar me vigiando o tempo todo até que conseguisse dominar a situação a seu modo. “Droga!”. Pensei comigo mesmo. Fiquei ali por alguns minutos, apoiado na bancada onde os funcionários costumam preparar café, cogitando todas as hipóteses sobre o que aquele pervertido queria comigo.
Naquele dia nem sai para o almoço, tentei me enfiar de cabeça no trabalho para esquecer o que me aguardava. O tempo passou mais lento do que o comum, mas a hora do fim do expediente finalmente chegou. Peguei minhas coisas, me despedi do pessoal e assim que coloquei o pé direito fora do escritório, lá estava ele. Pablo estava sério, de braços cruzados, a roupa descontraída, bermuda jeans e uma camiseta surrada, o deixavam com um ar de beleza rústica, mas não menos atraente. Quando me peguei reparando no físico do rapaz mais uma vez, senti vontade de me martirizar, mesmo diante de confusão, eu era incapaz de controlar meus desejos.
Pablo não esperou que eu fosse até ele, sorriu presunçosamente ao me ver e caminhou até mim.
- Pontualidade! Isso é uma característica que você sempre teve, desde a escola. Lembra da professora Carmem te elogiando por isso no segundo ano?
- Lembro. – respondi de mau gosto ao cara.
- Nós éramos felizes e não sabíamos não é Gustavo, toda aquela zuação, toda...
- Olha Pablo, o que você quer de mim? Eu não tenho a tarde toda para ficar aqui de papo com você não, estou cansado, preciso de um banho, amanhã ainda trabalho. Tenho muito que fazer. – fui um pouco rude, mas percebi que se não o cortasse, Pablo daria voltas e mais voltas antes de chegar ao ponto no qual queria “falar” comigo.
- Calma! Trabalhar anda te fazendo mal hein Gustavo! Já pensou em tirar férias. – Pablo estampou em seu rosto um sorriso debochado.
Tive que controlar meus nervos, apesar de não ser do tipo que se envolve em brigas de ruas, também nunca tive sangue de barata para aturar brincadeiras idiotas, e essa minha característica acentuou-se ainda mais nos últimos dias, depois de uns encontros repentinos com um certo desconhecido misterioso.
- já que está com tanta pressa, vamos logo ao que interessa, meu carro está logo ali. Vem comigo. – disse Pablo apontando para um gol preto estacionado do outro lado da rua.
- O que? Pablo, você não entendeu ainda que eu estou com pressa?
- Escuta aqui meu amiguinho - Pablo segurou bruscamente meu braço direito enquanto falava, olhando diretamente em meus olhos. - Se alguém não entendeu alguma coisa aqui, esse alguém é você! Eu quero conversar com você para resolver certas pendências que nós temos e isso vai ser agora, estamos claros?
O cara me segurava firme e forte demais, puxei meu braço tentando me soltar, mas não consegui. Pablo só me soltou quando com um olhar passivo comecei a caminhar rumo ao carro.
- Continua sempre obediente! O queridinho dos professores não mudou nada! – Pablo prosseguia com sua ironia.
No carro o clima era desconfortável, o único barulho entre nós dois era o do rádio, sintonizado em uma rádio sertaneja, o que particularmente não faz meu gênero musical. Pablo parecia conhecer a todas as musicas, acompanhava a todas as canções, entoando-as de forma desafinada. Eu ficava calado, tentando utilizar o silêncio para maquiar o medo que me consumia.
Quando me dei conta, percebi que estávamos saindo da cidade, meu coração acelerou-se e o pânico cresceu ainda mais dentro de mim. Comecei a supor as idéias mais absurdas. Cheguei a considerar a hipótese de estar sendo seqüestrado pelo descontrolado Pablo.
- Para onde estamos indo? – perguntei sem conseguir disfarçar o medo em minha voz.
- Relaxa, já estamos chegando!
- Mas... Só tem mato aqui! Estamos chegando onde?
- Gustavo, faz um favorzinho para mim? Cala sua boquinha e espera?
Olhei desapontado e submisso para o cara, e voltei minha cabeça para o lado da janela. Tudo o que eu podia ver eram plantações, criações de animais e em alguns pontos, mata fechada. Aquilo estava me preocupando cada vez mais. Mal se passaram 5 minutos e Pablo parou o carro. Estávamos num terreno extenso, recoberto por lixo e mato por toda a parte.
- Sai do carro.
- Eu não vou descer aqui Pablo!
- Sai do carro! Não ouviu ainda? Quer que eu grite?
Senti-me impotente, queria reagir de alguma forma, queria ter podido evitar aquela conversa, podido ter evitado estar naquele carro, naquele lugar desconhecido. Mas não. Fui frouxo, deixei-me assustar pelo temperamento agressivo do cara e ali estava eu, sozinho com um doido no meio do nada, sem nenhum meio de pedir ajuda e cada vez mais encrencado. Abri a porta e sai do carro e simultaneamente Pablo fez o mesmo. Observei assim que sai o sorriso de satisfação estampado na cara do meu colega de escola. Pablo aproximou-se de mim, segurou seu pênis sobre a calça e com muito sarcasmo começou a despejar baboseiras nos meus ouvidos.
- Você gostou de ver o meninão do Pablo aqui na ativa não foi? Pode falar, eu sei que você adorou. - O homem acariciava seu órgão contornando-o por cima da bermuda, fazendo com que se destacassem seus detalhes e tamanho. - Mas não tem problema não Gustavinho, eu te entendo, o meninão aqui é irresistível, não é qualquer um que consegue esquecê-lo depois que o vê.
- Pablo pára com isso cara, o que você quer de mim? – Fiz um pouco de teatro ao falar, na verdade eu estava bem animado com as insinuações do cara. Imaginei se Pablo estava querendo algo comigo e logo me deixei levar pelos meus desejos, o que provavelmente ficou visível em minha expressão.
- Que carinha de safado! Você quer ver de perto não é? Confessa!
Pablo era persuasivo, e eu era fraco, se ele continuasse com aquele jogo por muito tempo eu colocaria em risco toda a reputação que havia construído e em poucos dias toda a cidade saberia sobre minha orientação sexual. Estava com os olhos fixos nas mãos e na bermuda do rapaz e não conseguia retira-los dali. Pablo abaixou a bermuda e começou a urinar bem na minha frente. Parecia que o cara estava tentando me acertar.
O comportamento daquele homem estava mais estranho do que quando estudávamos juntos, ele ria como um doido enquanto tentava me acertar com a urina e eu me afastava. Por fim Pablo parou, vestiu novamente a bermuda, aproximou-se ainda mais de mim e ficou a apenas alguns centímetros do meu rosto. Eu tive a sensação de que iria ser beijado, mas era só mais uma entre as minhas milhares de fantasias e desejos secretos. Pablo me empurrou no chão e chutou-me. Sujei-me de imediato de barro e mato, meu rosto e meus cotovelos começaram imediatamente a arder como conseqüência do contato com o solo. Estava com dor.
- Você achou mesmo que eu ia querer alguma coisa com você sua bonequinha! Gustavo, Gustavo, só você mesmo. Só te trouxe até aqui, para te mostrar do que sou capaz de fazer se você abrir sua boquinha para falar alguma coisa sobre o que viu naquela noite. E olha bem! O que eu estou te mostrando aqui é só uma amostra bem pequena do que eu sou capaz...
O ódio estava estampado no rosto daquele homem, suas sobrancelhas juntas, seus olhos cerrados, pareciam detalhar a raiva que o dominava. Limpei meus braços e me sentei prestes a levantar. Precisava reagir de alguma forma, não podia deixar com que Pablo me desmoralizasse a tal ponto. Porem, ele foi mais rápido do que meus reflexos e me empurrou novamente para o chão com os pés e dessa vez, foi além, cuspindo em mim e deixando o pé direito sobre meu peito.
Pablo começou a aumentar a pressão com os pés sobre meu peito, me deixando sem ar. Eu estava perdido, estava completamente ferrado. Lembro-me de ter visto um vulto, minutos antes de minha visão tornar-se confusa. O vulto era negro, mas ao mesmo tempo branco como a neve, era algo encantador, mas eu não era capaz de decifrá-lo. Estava a cada segundo com menores condições de respirar e mais frágil.
De repente sinto um alivio, o peso do corpo de Pablo sobre meu corpo desaparece e ouço um barulho. Era um soco, e felizmente não era eu que o estava recebendo. Pelo barulho, deduzi que quem quer que o tenha recebido deveria ter perdido alguns dentes ou ganhado alguns hematomas bem sérios. Tentei me levantar e recuperar minha respiração e visão. Continuei ouvindo barulho de socos, com certeza alguém estava brigando com Pablo. E desta vez, não era ele que saía vitorioso, considerando que todos os gemidos de dor eram entoados pela voz dele.
Bastaram mais alguns poucos minutos e ouvi o carro de Pablo afastar-se rapidamente e quase que ao mesmo tempo senti o toque frio de uma mão tocando meu rosto.
-Você está bem? Está muito machucado?
Era a voz mais linda e agradável que eu já havia ouvido, o timbre era suave, mas me arrepiava. Era a voz de um homem, mas era cheia de doçura e atenção. Percebendo a semelhança daquele toque com o toque que senti em minha pele na noite anterior, entrei em êxtase. Tentei a todo custo recuperar minha visão, para poder confirmar o que eu achava estar acontecendo, e que sinceramente desejava com toda a energia que me restava que realmente estivesse.
Fechei meus olhos com esperança de que quando os abrisse o encontrasse ali, olhando para mim. Senti meu coração palpitar quando o fiz. Eu havia recuperado a visão, e ali estava ele. O forasteiro misterioso, cara a cara comigo, com os olhos negros penetrando nos meus, aparentando preocupação e seduzindo-me sem fazer esforço. Sorri e tudo o que pude dizer antes de cair desacordado foi:
- Não tenha dúvidas de que agora eu estou perfeitamente bem!
Continua...
to adorando essa história cada dia que passa ela fica melhor.to doida pra saber o final dela
ResponderExcluirDessa vez o gustavo não se deu muito bem, mas só o fato de estar perto desse misterioso forasteiro já estava bom pra mim kk..
ResponderExcluirAss:MRL