Mais um dia exaustivo de trabalho e a mesma monotonia me perseguia, o sol se punha no horizonte e eu saia direto do escritório para o botequim da esquina. Era sempre assim, toda sexta feira, tentava afogar minha solidão em litros de cerveja, tentava disfarçar com a bebida a solidão que eu vinha sentindo desde que fui deixado de lado pela única pessoa que eu amava. Minha noiva nunca foi uma das melhores amantes, sempre deixou a desejar no aspecto carinho, sempre fui um objeto sexual para ela, o que de certa forma é uma ironia, considerando que nos demais casais, este papel não caberia a mulher.
Apesar de insatisfeito com a relação fria, nunca fui capaz de oferecer a mim mesmo uma chance de procurar por alguém que pudesse preencher o que ela era incapaz. Quando ela decidiu, sem mais nem menos acabar com tudo, senti meu chão sumir, e passei a viver uma rotina que se limitava em ir de casa ao trabalho todos os dias, com exceção das sextas, onde o botequim da esquina fazia parte dos meus momentos de desolação.
O mês estava próximo do fim, e como as comemorações de final de ano se aproximavam, o botequim estava cheio. Grupos de universitários se reuniam, curtindo o happy hour e conversando sobre futebol e garotas. Outras mesas eram ocupadas por caras mais velhos, trabalhadores da indústria que se reuniam em confraternização. Havia ainda os tradicionais clientes do bar, os quais já havia me habituado a ver toda a sexta desde que comecei a freqüentá-lo, eram em geral senhores de idade, caracterizados pela barriga avantajada, provavelmente conseqüência da bebedeira constante. O movimento intenso de certa forma me perturbava, gostava do lugar justamente pelo sossego que ele me oferecia, tomava minha cerveja olhando para o seu ventilador de teto empoeirado, sem me preocupar com a o que estariam pensando os outros ali a minha volta. Com tanta gente era difícil. O barulho não me permitia apenas sentar, beber e olhar para o teto. Comecei a reparar nas pessoas que me rodeavam.
O estranho é que aos 25 anos eu me sentia velho. Olhava para os universitários, empolgados no auge de seus 20 anos e os invejava, apesar da pouca diferença de idade entre eu e eles. Não fazia muito tempo que conclui a faculdade de administração, a convivência com pessoas daquela faixa etária era algo com que estive sempre habituado, mas que agora parecia tão distante da minha realidade que me fazia sentir saudades. Talvez a convivência no escritório com todo aquele pessoal mais velho, ressentido pelos castigos que o destino os reservou, a carência e a necessidade que meu corpo tinha de se envolver mais efetivamente com alguém, reprimida pelo casulo que eu mesmo criei ao meu redor após ter sido deixado pela minha noiva, tenham me tornado esse velho de 25 anos.
As risadas que vinham da mesa ao lado eram para mim nostálgicas, mas o que mais me incomodava na mesa vizinha, era observar um casal que parecia arder em interação um com o outro. Os toques constantes, os beijos e os abraços e até mesmo as simples trocas de olhares entre os dois demonstravam a perfeita sintonia em que estavam. A satisfação estava estampada nos sorrisos de ambos, fazendo me lembrar dos momentos felizes que vivi antes de ser abandonado. A beleza da moça era descomunal, loira, bem provida de corpo, curvas sutis e proporcionais ao seu corpo, porem o que estranhamente me chamou atenção foi o rapaz. Era um cara alto, e pelo que denunciavam suas roupas, era freqüentador assíduo de uma academia. Os cabelos aloirados, espetados para cima, o sorriso largo e sincero iluminando a pele pálida e os olhos castanhos claros como nunca havia visto antes lhe caiam perfeitamente. Quando me peguei reparando nos traços do cara, tentei me justificar. Estaria eu tentando idealizar naquele rapaz o homem que gostaria de ser? Estaria invejando a alegria que emanava dele? Sentia inveja da namorada do rapaz? Nenhuma dessas suposições pareceu justificar bem os pensamentos que em mim despertavam. Parei simplesmente de tentar encontrar uma justificativa e tudo o que pude fazer foi continuar a olhá-lo.
Fui pego de surpresa quando o garçom, agora já um velho conhecido meu, parou ao lado da minha mesa, oferecendo mais uma cerveja. Sem mostrar muito interesse aceitei, e em poucos minutos acabei com mais uma garrafa. A conversa na mesa vizinha continuava ininterruptamente, ao passo que os beijos do casal prosseguiam cada vez mais intensos. Tive dificuldades em parar de olhar a maneira como o rapaz beijava a moça, cheio de desejo e cheio de carinho ao mesmo tempo, mas acabei decidindo sair dali. Alguém poderia notar meus olhares furtivos para o casal, e não seria nada conveniente ser questionado ou arrumar algum tipo de confusão por causa disso. Levantei-me, pedi ao garçom que somasse minhas cervejas, enquanto eu fosse ao banheiro e assim fiz.
O banheiro estava vazio, lavei meu rosto e fiquei parado por alguns minutos olhando a mim mesmo no espelho. A imagem daquele cara não saia da minha cabeça, uma vontade estranha me dominava, mas eu não sabia descrevê-la. Só sabia que aquele homem estava envolvido nela. Fechei a torneira, enxuguei meu rosto e ao sair do banheiro me deparo com ele. Abrimos a porta ao mesmo tempo, o olhar desconcertante daquele rapaz focou meus olhos diretamente pela primeira vez e fez minhas pernas tremularem discretamente. Meu desejo era ficar ali, cara a cara com ele o máximo de tempo possível, mas sabia que o certo a fazer era sair dali. Como se não bastasse o olhar, recebi um sorriso educado do rapaz, o mesmo disse alguma coisa que não fui capaz de identificar, segurou a porta do banheiro até que eu saísse e me fez entender. Eu estava atraído por ele, estava desejando outro homem... Não podia mais esconder de mim mesmo.
Paguei minha conta rapidamente e sai do botequim sem olhar para trás, fui incapaz porem de entrar em casa. Sentei-me ali mesmo na calçada enfrente ao meu condomínio e em nada mais pensei, só consegui recordar e reviver em minha mente aquele momento na porta do banheiro, recordando traço por traço daquele homem por quem agora eu assumia estar atraído. Eu mal o conhecia, mas o desejava.
Passei o sábado todo desconcertado, primeiro por estar interessado em um cara, segundo por saber que as possibilidades de revê-lo seriam mínimas, bem como as possibilidades de acontecer algo entre eu e ele, já que como eu vi, o cara namorava.
Não pude deter meus instintos e acabei voltando ao botequim naquela noite. Ao invés de me sentar na mesa onde habitualmente eu ficava, sentei-me na mesa onde estavam os universitários na noite anterior, na mesa onde estava o MEU universitário. Tomei algumas cervejas, sentindo a amargura crescendo ainda mais dentro de mim, o vazio agora era ainda maior. Passei algum tempo brincando com o porta-guardanapo da mesa, até que fui interrompido pelo meu amigo garçom. Ele trazia consigo um documento de identidade e me questionou se por algum motivo eu conhecia o dono. O nome era Rafael, e para meu espanto era ele. O rapaz da noite anterior, o mesmo que me despertou sensações estranhas até pouco tempo atrás desconhecidas e que agora fazia com que meus pensamentos circulassem em um ciclo continuo, onde o objeto principal era o desejo de alguma forma vê-lo, tocá-lo ou algo do gênero. O garçom obsoleto a todos os meus pensamentos me observava calado enquanto eu olhava a foto do cara. Mal me dei conta que haviam se passados segundos consideráveis desde que fui questionado, provavelmente o garçom acabaria desconfiando de alguma forma da minha atitude. De súbito, afirmei conhecê-lo e pedi ao garçom que deixasse a identidade comigo, que entregaria ao dono assim que o visse.
Sinceramente não sei o porquê disse aquilo, nem mesmo imaginava como encontrá-lo, apesar de desejar de todo meu intimo que isso fosse possível. Talvez a possibilidade de aproximação que aquele simples documento me proporcionava tenha me tentado tanto que fui incapaz de refletir e usar o lado racional da minha mente. O que estava feito não podia ser revogado, agora tinha que de alguma forma encontrar Rafael, devolver aquilo que o pertencia e ao menos olhá-lo por mais uma vez. Como concretizar isso? Ainda não sabia. Naquela noite sai do botequim com esperança em meu peito, apesar de todas as incertezas não pude deixar de me alegrar com a hipótese de rever aquele estranho.
O destino ao mesmo tempo em que parece ser cruel, sempre nos reserva surpresas um tanto quanto agradáveis. Caminhando de volta para casa, avistei de longe aquele que meus sentidos solicitavam, sua pele clara parecia reluzir ao luar e os lábios apesar de cerrados, faziam me recordar daquele sorriso que me cativara tão rapidamente. Rafael era ainda mais bonito do que meus olhos me permitiam enxergar, mulher nenhuma havia me despertado atração tão intensa antes. Precisava, porém parar de observá-lo e agir, precisava abordá-lo sem soar aflito, e inventar alguma mentira que disfarçasse o motivo pelo qual eu portava seus documentos. Decidi colocar em prática minha experiência como ator na época de jardim de infância, fingi o ter notado no momento em que dividíamos a mesma calçada e que apenas um metro nos separava. O abordei.
- Ei - disse eu em tom de surpresa- Você estava no botequim da esquina ontem a noite não estava?
- Estava sim. Ah!... me lembrei de você. Nos esbarramos na porta do banheiro não foi?
- Foi sim- afirmei esboçando um sorriso cordial, ao passo que não conseguia parar de olhá-lo. O perfume do cara era indescritível e fez a palma das minhas mãos suarem.
- Eu estava justamente voltando para lá agora. Perdi meu RG, acho que eu deixei cair da minha carteira ontem quando fui pagar a conta.
- É eu sei.
-Sabe??
- Fui eu que encontrei! Aliás ele está aqui comigo agora. –Fui obrigado a pensar rápido.
Percebi o olhar desconfiado de Rafael, mas fingi não notá-lo. Peguei minha carteira do bolso e de lá retirei o documento do cara. Estendi o braço e o entreguei ao dono, sentindo a ponta dos dedos do rapaz encostarem na minha mão suada e desejei que aquele contato fosse prolongado ao menos por alguns segundos.
- Que bom que ele caiu em mãos confiáveis! Valeu mesmo cara. Posso te pagar uma cerveja para agradecer?
Meu desejo era de correr de volta para o botequim com ele, passar o máximo de tempo possível o admirando, olhando de perto as curvas daquele corpo desenhadas por cima da camiseta e ouvindo aquela voz, mas algo me dizia que não devia.
- Acho melhor deixar para a próxima, eu acabei de sair de lá, e estou meio cansado.
- Marcamos outro dia então, o que você acha? Te devendo essa eu não fico.
- Ai pode ser cara. Amanhã a noite?
- Amanhã para mim fica difícil, já combinei de levar namorada para o cinema, mas se não tiver problema para você, na segunda tomamos uma juntos.
Quando o ouvi falar da namorada senti um aperto no peito, estava me iludindo demais, alimentando esperança demais, mas recebi na cabeça um balde de água fria. Por mais desanimado que eu tivesse ficado, meu corpo não permitiu que eu negasse o convite, parecia que cada centímetro do meu corpo gritava pedindo que aquele homem ficasse mais tempo próximo a mim, e não fui capaz de refutar uma oportunidade tão boa como aquela.
- Sem problemas. Combinado então Rafael.
- Opa... Que injustiça, você sabe meu nome e eu não faço idéia de qual seja o seu.
- Foi mal. Esqueci de me apresentar. Mauricio.
Estendi a mão e entrei em transe com a resposta do rapaz. Um simples aperto de mão nunca foi tão excitante para mim como aquele. Meu coração há essas horas estava palpitante.
- Acho melhor você ir para casa mesmo cara, deve ter bebido demais por que até sua mão está suando frio. –disse sorridente Rafael.
O deixei contra vontade do meu corpo e segui meu caminho até casa.
Não preciso nem comentar que o domingo foi para mim uma tortura, as horas pareciam não passar e nada conseguia me distrair. Na segunda não foi diferente, enquanto tentava me ocupar com as tarefas do trabalho, meus pensamentos focavam-se naquela mesa de botequim. Por mais custoso que tenha sido, o tempo passou e a hora mais esperada por mim chegou. Preparei-me com um banho demorado e depois de vários minutos em frente ao espelho sai correndo com medo de me atrasar.
O que eu não esperava era que ele se atrasasse tanto. Estava na minha quarta cerveja, totalmente ansioso e descrente. A cada minuto que se passava estava mais certo de que o cara não fosse aparecer. Olhava para o relógio com freqüência enquanto tentava me distrair com o falatório no botequim, estava aflito e ressentido. “Ele não vai aparecer”. Afirmei a mim mesmo. Chamei o garçom e pedi a conta. Quando entreguei o dinheiro e a gorjeta ao meu amigo fui surpreendido por uma voz vindo de perto da porta do botequim, a qual eu era incapaz de esquecer.
-Indo embora sem tomar uma cerveja comigo?
Fui tomado pela felicidade e pelo desejo novamente. Não consegui reter meu sorriso, quase corri em direção ao cara e o abracei.
- Achei que nem fosse mais aparecer. Combinamos as sete não foi?
- É, foi sim. Aconteceram uns problemas eu acabei me atrasando. Mas então, ainda posso te pagar uma cerveja, ou já bebeu o suficiente por hoje?
- Acho que ainda consigo beber mais uma. –tentei parecer descontraído e forçar uma brincadeira.
- Que bom, só que já vou avisando, vai ter que me aturar reclamando a noite toda.
Por mim passaria não só aquela noite o ouvindo, mas todo o tempo que pudesse.
- Com tanto que não cai chorando no meu ombro, acho que não tem problema Rafael.
Ele riu e aquele sorriso me fez desmanchar. Sentamos-nos e com o decorrer do tempo e as doses de bebida na cabeça, ele acabou me contando o motivo do atraso. Tinha acabado de terminar com a namorada, discutiram feio depois na noite no cinema. Incomodei-me pela forma com que ele falava da ex, parecia inconformado com os motivos que os levaram a separação e parecia muito envolvido a ela. Senti a ternura quando mencionava o nome da garota, e mais uma vez desfiz todas as fantasias que cultivei. O rumo da conversa de uma hora para outra mudou e mais uma vez fui surpreendido.
- Mas chega de falar sobre mim e meus relacionamentos complicados. Conte-me mais sobre você. Um cara maneiro, boa pinta como você deve estar cheio de garotas no pé. Não estou certo?
Com um sorriso irônico retruquei:
- Cara ultimamente não pego nem resfriado. E outra, não estou com esse poder todo.
- O que anda acontecendo com essas garotas então? Como que elas deixam passar despercebido um cara como você? O problema deve estacar nelas.
Comecei a processar as informações a mil por hora, fui dominado pela incerteza, pelo medo, mas tinha vontade de prosseguir. Sentia que de alguma forma ele estava tentando chegar ao mesmo ponto que eu, mas temia estar enganado, temia que com o uso das palavras erradas na hora errada eu acabasse por destruir algo que mal havia começado. A dúvida entre investir ou recuar fez com que minha reação a cada pergunta dele fosse retardada. Meus olhos não estavam mais fixos ao rosto de Rafael, quando notei, estava olhando hipnotizado para seus braços. Eram fortes, desenhados proporcionalmente ao corpo do rapaz, demonstrando sua masculinidade sem excessos como aqueles fisiculturistas adoidados.
- Mauricio? Tudo bem?
- Está sim. Desculpa Rafael. É que é meio difícil, aliás, é a primeira vez que outro cara me elogia assim.
Quando percebi a expressão do cara, vi que as palavras que usei não foram nem um pouco convenientes. Ele com certeza tomou o que eu disse como um fora e agora ia parar com as indiretas.
-Eu que te peço desculpas Mauricio, só espero que você não me entenda mal, mas só não posso negar que... Você chamou minha atenção desde sexta quando nos esbarramos ali na porta do banheiro.
Naquela hora não tive duvidas. Apesar de ter dificuldades em acreditar que aquele homem por quem passei dias e dias refletindo, e assumi sentir desejos que nunca havia sentido estava interessado em mim, talvez tão envolvido quanto eu. Sorri dessa vez sem medo de esconder nada.
-Vamos sair daqui Rafael. Eu moro perto daqui, lá podemos conversar com mais calma.
Esperei encontrar relutância, mas para minha surpresa ele concordou. E assim foi. Em casa mal trocamos meia dúzia de palavras. Com aquele mesmo olhar profundo com que me fitou na porta do banheiro do botequim, Rafael me olhou e caminhou em minha direção. Não havia mais segredos entre nós dois, mesmo que estes não tivessem sido explícitos através de palavras. O toque de suas mãos era ainda mais agradável do que pensei, estar envolto em seus braços me fazia sentir em segurança. Sua respiração próxima ao meu rosto suprimia todos os pensamentos que pudessem restar em minha mente. Tinha sede de uma única coisa, queria beijá-lo. Se pudesse descrever a sutileza daqueles lábios pressionando os meus e as sensações que eram transmitidas por todo o meu corpo com o toque daquela língua, que apesar de gentil, não deixava de demonstrar sua virilidade fazendo com que eu o desejasse cada vez mais, tenho certeza que faria meus caros leitores entrar num transe tão grande quanto o que eu senti naquele momento.
O fogo que aos poucos começava a inflamar com mais intensidade, dominava meu corpo. Podia sentir o mesmo fogo tomando Rafael e induzindo-o a progredir em seus toques e carinhos fazendo com que eu me sentisse desejado. Talvez fosse isso que faltava para que eu me sentisse completo, algo que nem minha antiga noiva e nem qualquer outra mulher seria capaz de me proporcionar. Estava sendo almejado como nunca havia sido.
Enquanto prosseguíamos no beijo o qual para mim poderia não ter fim, sentia as mãos daquele cara me pressionando com força e percorrendo todo o meu corpo, me arrepiava quando as mesmas encontravam pontos específicos da minha pele, o que me influenciou a questionar de onde aquele homem tinha tanta experiência. Na verdade não me importava com a resposta para esta questão, só era capaz de pensar e viver o momento desejando que Rafael não parasse e chegasse aonde eu mais queria.
Estávamos em minha sala quando ele tirou a camiseta. Não pude esconder a excitação ao ver aquele corpo desenhado, onde os músculos pequenos davam forma à carne e o deixavam irresistível. O abdômen definido revestidos com alguns pelos deixavam claro com quem estava me envolvendo. Era um homem. Um homem lindo, com o qual perdi noites de sono e fez- me despir de meus pudores, deixando o preconceito de lado e revelando a meu próprio intimo vontades que me eram desconhecidas.
Rafael me despiu com os olhos, e não tardou até que o fizesse com as mãos. O toque quente de sua pele sobre todo o meu corpo me fez chegar ao ápice, se houvesse algo que eu pudesse esconder, naquele exato momento Rafael havia o extinguido. Isso não me importava, queria me entregar a ele e tê-lo para mim com a mesma intensidade.
O sofá foi testemunha de todo nosso êxtase, os sons de respirações ofegantes, beijos ardentes e do próprio móvel sendo comprimido pelos dois corpos difundiam o silencio da noite. Sentir a pela daquele rapaz com meus lábios foi outra sensação inexplicável, talvez por ter desejado estar com ele há muito tempo, ou mesmo pelos sentimentos que a cada dia mais Rafael me despertavam senti prazer de uma forma que desconhecia. O mais incrível era perceber as reações daquele cara ao toque da minha língua e de todo meu corpo, sentia-me mais preenchido ao ver que estava o satisfazendo.
As caricias perduraram por longos minutos, expondo fisicamente o que ambos sentiam internamente. Até o momento em que nos tornamos um só. Formar junto a Rafael, um único ser, onde somente a paixão e o prazer predominavam, me assustou muito menos do que eu esperava. Não tive medo, não tive vergonha, só fui capaz de me abrir entregando tudo o que antes julgava meu para aquele homem e passando a dividir o mesmo espaço físico com o estranho do botequim.
A proximidade de nossos corpos tornou-se ainda maior, as chamas do desejo converteram-se em suor e os beijos e caricias não se ausentaram por momento algum. Senti-lo me arrepiando na orelha, meu pescoço e descobrindo cada centímetro em que meus desejos me faziam vulnerável me fizeram ser incapaz de me controlar por muito tempo. E assim foi também com Rafael.
Abraçados nus naquele sofá, observando o movimento de vai e vem do corpo um do outro ao respirar suavemente depois de todo aquela explosão de luxúria foi a melhor forma para terminar uma noite. Se naquele momento havia vazio dentro de mim, este era conseqüência do pensamento de ter que me afastar do cara e ter de esperar para revê-lo. Não era mais o mesmo, e nem desejava ser o velho Mauricio. Encontrei a felicidade no aconchego do corpo daquele universitário e não admitiria perde-la novamente.
Rafael e eu passamos anos juntos, sempre retornando aquela mesa de botequim, onde pela primeira vez, com meias palavras expressamos um ao outro o que sentíamos.